O Teté - Falta ainda apresentar o Teté. O Teté é o meu pai, também é professor e tem 67 anos. Na realidade chama-se Carlos, mas a Sofia, quando era pequenina, começou a chamar-lhe Teté e pegou o nome. Convém apresentar o Teté porque, apesar de não viver cá em casa, é uma parte importante na nossa dinâmica familiar. É, em grande parte, graças a ele que eu a Sara conseguimos fazer programinhas a dois. E isto acontece porque o Tété é um FANÁTICO pelos netos e não consegue estar mais de 2 ou 3 dias sem os ver. E assim, pelo menos, 2 vezes por semana ele vem de Lisboa a Sesimbra para ir buscar as miúdas à escola e jantar cá em casa. Também é normal que, de 15 em 15 dias, ele os leve a todos para passarem o fim de semana em casa dele. E muda fraldas, dá banhos e jantares (só o que elas gostam é claro!), dá biberão, leva ao parque, ao aquário Vasco da Gama, ao Santini, etc.. São fins de semana em que as miúdas levam uma injeção massiva de açúcar e de gorduras saturadas, mas que elas adoram. Verdade seja dita que se o Teté é um maluco obsessivo pelas netas, também o era/é por mim e pelo meu irmão. Ainda hoje, tendo eu 43 anos, se tusso 2 vezes e tenho 37.5 de febre, ele telefona-me de 15 em 15 minutos a perguntar:
- Então? Como
é que estás? Estás melhor? Não te doi a garganta? E já comeste? Tens de te
alimentar!!!!
Pior!! Muitas
vezes ele liga à Sara com medo de eu não lhe estar a dizer a verdade:
- Sara, diz-me
a verdade!!! Como é que está o Pedro??? De certeza que é só uma constipação??
Viste se ele tinha pontos brancos na garganta? Olha que garganta dele é
frágil!!! Vou almoçar e já telefono de aqui a 10 minutos!!!
O “problema” é
que o Teté é tão obcecado pelas netas e pelo neto, que se torna completamente
parcial e sem nenhuma noção do ridículo. Podemos estar numa festa qualquer do
colégio, em que uma das miúdas participa numa exibição de ballet e, se a neta
se desloca para a esquerda enquanto as outras 17 colegas se deslocam para a
direita, o Teté diz, com toda a tranquilidade:
- Olha, olha!!
Estas tontas enganaram-se todas!!! Boa Sofia!!! (e grita para o palco!!!)
Percebam que,
para o meu pai, as netas são as melhores do mundo e arredores e tudo o resto é
cocó!!! A Sara, em comparação com as netas, é claramente cocó!!! Eu sou cocó!
Existem as netas e depois existem os outros, que podem tentar mas que nunca
chegarão aos calcanhares das meninas!
Foi também
graças ao Tété que eu herdei o gosto pelas brincadeiras com pistolas, espadas,
fisgas e afins. Era comum, eu e o meu irmão, termos lutas intermináveis contra
o meu pai, quando éramos miúdos. Uma das brincadeiras mais comuns era a guerra
de elásticos. Tínhamos de estar todos de tronco nu, com óculos de natação
(segurança acima de tudo…); eu e o meu irmão ficávamos de um lado da cama dos
meus pais, e o Teté do outro lado. Dobrávamos bocadinhos de papel em 4,
revestíamos de fita-cola (doía mais assim…), pegávamos num elástico e era um
fartote de pequenos hematomas.
Outra das
brincadeiras muito divertidas que o meu pai inventou, consistia em dar uma mola
da roupa a cada um de nós (eu e o meu irmão) e depois, alternadamente, podíamos
colocar onde quiséssemos na cara uns dos outros. O primeiro a não aguentar a
dor e a desistir, perdia. Era giríssimo: púnhamos nas pálpebras, nos arcos das
orelhas dobrados em dois, no nariz, etc….
Enfim…como é
que se pode não gostar de uma brincadeira destas?...
Mas o créme de la créme das brincadeiras
inventadas pelo Teté, era a luta de almofadas que eu e o meu irmão fazíamos em
cima da cama dos meus pais. Isso é que era!!! Com almofadas de sumaúma, bem
pesadonas, dávamos porrada um no outro até à inconsciência. Cair em cima da
cama, valia um ponto, mas se conseguíssemos que o outro fosse projetado para
fora da cama ganhávamos dois pontos!!! É claro que muitas vezes esta projeção
acabava com um contacto imediato com uma das mesinhas de cabeceira ou com a
quina de uma cómoda, já para não falar dos ataques asmáticos que aquilo nos
provocava, mas valia bem a pena!!! Deixámos lá ficar bilhões de neurónios e
alguns dentes, mas era a nossa brincadeira favorita…
(Às vezes
pergunto-me como é chegámos à idade adulta…)
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