quinta-feira, 19 de abril de 2018

Viver em Sesimbra...


(Final de tarde na Praia de Sesimbra)

Tanto eu como a Sara não somos naturais de Sesimbra (eu sou de Benfica - morava mesmo ao lado do sítio onde o Simão vai trabalhar durante uns anos - e a Sara é de Cascais) e, por isso, o facto de termos vindo para cá viver significou uma ruptura com rotinas e contextos a que estávamos habituados desde sempre.

Antes de mais, convém fazer aqui uma chamada de atenção: nós não moramos, mesmo, em Sesimbra! Moramos numa povoação que fica a 5 minutos do centro da vila, e isto pode parecer rídiculo uma vez que, originalmente, Sesimbra era uma aldeia de pescadores, mas que, naturalmente, tem vindo a ver os seus limites serem alargados; mas, para os locais, estas questões são muito importantes. É que, para os Pexitos (habitantes de Sesimbra), só é verdadeiramente de Sesimbra quem mora desde a linha do mar até determinado ponto na estrada... Quem mora para cima desse ponto (que fica, praí, a 600 metros do centro da vila) não é Pexito, mas sim Camponês (vive no campo...). É claro que, para um Pexito, ser Camponês é algo depreciativo e o contrário também é válido. Consta que antigamente havia grandes cenas de porrada entre Pexitos e Camponeses...

Bem, hoje em dia as coisas estão mais diluídas e já não ha cenas de pancadaria, mas continua a haver acesas discussões nos cafés entre Pexitos e Camponeses. Nós, como não somos daqui, consideramos que, a partir da Rotunda da Nato, já não estamos na "Margem Sul", que já é Sesimbra e, por isso, somos todos Pexitos.

É engraçado porque lembro-me perfeitamente, quando tinha 20 e poucos anos, de estar a voltar da Caparica, após um dia de praia durante a semana, olhar para o trânsito para sul, na ponte, e pensar:

"- Porra!! Nunca hei-de morar na margem sul!!!!

De qualquer forma, como já disse, Sesimbra já não é bem "margem sul" e assim, neste momento, eu e a Sara somos os maiores defensores do "viver em Sesimbra" que conhecemos. Acho, mesmo, que nós gostamos mais disto do que qualquer Pexito "original"!!

Isto é, de facto, o paraíso na Terra! 

Estamos a 40 minutos de Lisboa, o que nos permite continuar a ter vida social com amigos que continuam a viver por lá (coitados...); temos grandes restaurantes (o nosso grande vício...) onde podemos apreciar desde o tradicional e descontraído peixe grelhado, no Lobo do Mar ou no Pintarola, à cozinha de autor no Bar da Padeiria; temos uma praia soalheira (virada a Sul) - há lá coisa melhor do que passar o dia inteiro na praia e ao final da tarde ir jantar ao Portofino ou sentarmo-nos na esplanada do Ribas para beber uma caipiroska e jantar, ainda com areia nos pés, a sabermos que, quando quisermos ir para casa, estamos a 7 minutos de distância? Temos a Praia do Ribeiro do Cavalo; temos o Carnaval (O Carnaval Pexito); temos a Lagoa de Albufeira e o Meco, com o Bar do Peixe e com o Gula, onde os nossos putos ficam a dormir, tapados com mantas, nos sofás, para os pais poderem ficar um pouco até mais tarde a jantar com amigos; temos os croissants do Liansini; temos a Festa do Castelo; temos uma casa grande, com jardim e uma pequena piscina, ao preço de um T0 em Telheiras; temos os miúdos a brincar na rua, a andar de bicicleta ou a jogar à bola (o Simão...) de uma forma tranquila; temos, acima de tudo, uma qualidade de vida impagável e irrepetível em mais lado nenhum.

É claro que quando cá chegámos tivemos de nos adaptar às especificidades e idiossincrasias da Vila e dos Pexitos...Uma das coisas a que achei logo imensa piada é o facto de toda a gente se tratar por tu (como calculam, a Sara achou muito estranho porque é de Cascais... - estou a brincar, ok?...ela é de Cascais, mas de um bairro social...)! Achei engraçadíssimo ir à farmácia pedir uma caixa de comprimidos para as dores de cabeça e o farmacêutico dizer-me:

"- Queres a caixa com 10, ou a caixa com 20 comprimidos?"
...
...
...
"- Olha... Tanto faz... escolhe tu!"

Um gajo sente logo que está ali família!


Também nos tivemos de adaptar ao sotaque e aprender algumas das expressões típicas Pexitas. Por exemplo, dizer "Atão, soce? ou "Ah, ganda balhão!!" faz parte da herança cultural Pexita e toda a gente que queira ser Pexito tem de as dizer de tempos a tempos. 

Outra das expressões que me chamou logo a atenção foi a forma como dizem "Olha lá..." por tudo e por nada. É um "Olha lá" com diversas entoações, de acordo com o contexto. Se estiverem a ver um bebé no ovinho, é um "Olha láaaa..." assim mais arrastado; se estiverem a começar uma conversa é um "Olha lá!" mais assertivo... Enfim, varia muito, mas o "Olha lá" é obrigatório!

Alguns amigos meus, indígenas, queixam-se do facto de ser uma vila pequena e de toda a gente se conhecer. Argumentam, eles, que esse facto retira algum do anonimato que às vezes queremos ter em público.

Em percebo que essa proximidade pode tornar difícil a resolução de alguns conflitos e potenciar surgimento de outros, mas nós, que não somos de cá, nem temos cá nenhuma história familiar, achamos giríssimo saber o nome de toda a gente que trabalha nas Finanças.


Sesimbra acontece!

 (Praia da Ribeira do Cavalo)


(Sesimbra by nigth)

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